quinta-feira, 29 de outubro de 2020

MINHAS ETERNIDADES

 

MINHAS ETERNIDADES

 

O sono não vem

Enquanto o tempo passa eu busco dentro de mim algumas lembranças

O teu sorriso se repete em meus pensamentos de forma que quase posso vê-lo

O que preciso é de tempo para esquece-lo

Mas longe de ti, confesso que o tempo não passa

Teu cheiro impregnado em mim

Sai pelos poros, escorre pelas pernas e outras vezes transborda numa enxurrada de saudade

O adeus virou um mantra,

Castigando-me, 

Mantendo na superfície das minhas memórias o exato momento em que me disse adeus,

Findando ali uma das minhas eternidades.

 

Camila Rodrigues.

MÃE.

 

MÃE

 

Os olhos cansados, meio tristonhos

Refletem um corpo exausto.

Mergulhei no abismo desses olhos

Senti suas dores e chorei suas lágrimas

E num relance, o sorriso infantil brilhando como o sol ardente

Arranca de dentro daquela alma

Um olhar quase sorridente.

 

Camila Rodrigues.

AMOR E FÚRIA

 

AMOR E FúRIA

 

A mulher noturna, sobrevivente das madrugadas

Atravessando a encruzilhada pedindo axé pro seu orixá

A mulher negra de olhar profundo

A mulher negra de passos trôpegos à cantarolar 

Essa mulher de pensar prudente

Sempre sorridente e trazendo luz

Conhecedora de dores profundas, alegrias imensas e amores intensos

Olhar firme e pele suave

Seu corpo tem cheiro de amor e fúria.

 

Camila Rodrigues

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

NEM MEU NEM TEU

 

NEM MEU NEM TEU

 

A chuva chegando de mansinho, 

com suas gotas frias se esfregando no meu corpo,

Me faz lembrar do teu suor tremulo se juntando ao meu,

Suspiros, gemidos e afagos noite à dentro 

e o cheiro forte do teu eu exausto sobre o meu.

Deixo ir esse cheiro de saudade, 

o perfume de amor que outrora foi tão meu,

Hoje tenho vagas as lembranças de teu toque, 

o que me acompanha infelizmente é a dor pungente que me causou o teu adeus.

Ficou para trás os bons momentos e agora a poeira cobre nosso sorriso no retrato esquecido em um lugar qualquer da casa que nos acolheu, vai querido e não mais voltes pedindo perdão,

A chuva chegando de mansinho, com suas gotas frias se esfregando no meu corpo me bastam para que surja em mim algo de poesia, algo de meu...

 

Camila Rodrigues.

PORQUE DÓI...

 

Por que dói tanto?...

Tenho me feito essa pergunta à um tempo já... por que dói tanto?...

Dói ver a nossa história ser roubada de nossas vidas, dói ver a menina branca cheia de “boa vontade” usar o espaço que sempre foi seu pra contar a minha história do jeito que lhe convém, Porque dói um vídeo com milhares de acessos pra ver essa menina rica falar de pobreza com um pote de “nutela” na mão, por que dói ver meninos brancos “disfarçados” de negros entrando e saindo dos shoppings com seu visual descolado e seus cabelinhos na régua sem sequer serem vistos pelos seguranças que preferem ir atrás do pretinho que tentou se vestir bem pra não ser notado?

Será que a minina branca com seus dreads artificiais comprados no mesmo shopping quer só o “charme da cor” ou ela entende que esse lugar não à pertence? Como deve se sentir uma pessoa que usa dreads e nunca foi xingada de suja nem perseguida em supermercado? Pelo contrário é descolada e estilosa ...

É tão “bunitinho” a minina branca dançando funk que logo vira cultura, na favela não, é putaria mesmo e todas merecem ser molestadas, afinal estão rebolando...

Nos ridicularizam e vivem às nossas custas culturais, blues, samba, rock e agora a “onda” é o funk, acho interessante ver as pessoas apreciando arte e cultura negra, mas dói ver a cantora branca e rica ganhando dinheiro com um disco que remete a cultura afro e aos pontos de candomblé, invocando os orixás em seus palcos iluminados enquanto o nosso povo é assassinado e os nossos terreiros cheios de povo preto e santo é incendiado e perseguido.

Pode parecer bizarro, mas não aprecio a sua narrativa, você sentada no seu sofá, curtindo um friozinho que vem do ar condicionado com seu i fone na mão falando de favela?! Desculpe, mas você não me representa, você não sabe do que está falando e sinto muito, mas nesse caso a leitura não vai te ajudar, isso é coisa de pele, sabe? Não, não sabe... só confio em quem fala com conhecimento de causa e me perdoe, ser negro e favelado não é só dançar funk e usar visual não, sabe? E no terreiro? Onde o seu crush “negão” toca atabaque e você frequenta pra se sentir mais “descolada” tem invasão e incêndios criminosos fruto do racismo religioso. Enquanto você faz suas poesias fictícias pra falar de algo que não conhece os meninos estão fazendo rap pra existir e avião pra sobreviver, não, aqui não tem escola de música com professores e técnicas pra você “pegar o jeito” a caneta ocupa o lugar do martelo nas horas vagas e o pedreiro capta a inspiração embaixo do toldo durante o intervalo do almoço. e o moleque de 12 anos não pode participar do projeto social porque tem que cuidar do irmão mais novo pra mãe solo poder trabalhar e sustentar os dois, quem sabe ano vem? se o governo não cortar as verbas das ongs pode ser que dê certo ele levar o caçula pra verem juntos a aula de flauta doce que o jovem universitário veio ministrar pra ter seu trabalho reconhecido e concluir seu tcc na favela e assim salvarem seus mundos, são muitos mundos na favela.. Quando eu era criança e mal via a minha mãe que passava todos os dias trabalhando pra sustentar três filhas e assim poder viver sua vida sem a violência de um relacionamento abusivo me restavam os livros que recebíamos de doação, pois é... hoje eu escrevo pra sobreviver, de alma, não de grana, é muito difícil gente preta ganhar dinheiro contando as suas histórias, saca? Mas preciso falar ou escrever sobre o que me toca, os livros que eu recebia de doação das “patroas” me faziam sentir mais perto da minha mãe e por isso eu passava o dia lendo, não podia sair muito pra brincar na rua pois minha avó que nos guardava até minha mãe chegar do trabalho tinha medo que nos envolvêssemos com tráfico ou traficantes...

É triste perceber o olhar cansado do pai trabalhador que não serve de inspiração pro seu caçula que acha mais interessante a vida do traficante que mora ao lado e acorda tarde mas mesmo assim tem grana, mulheres e dinheiro. como se ensina sobre honestidade pra alguém que tem fome? Você pode me dizer? Faz um vlog, gata.. Não estou aqui pra julgar ninguém, mas quero que fique bem escuro que não me vejo em seus olhos, nem na sua fala, não acho justo que pessoas brancas que nunca sofreram o sofrerão nenhum tipo de racismo venham falar por mim nem por meu filho preto de 14 anos e favelado com muito orgulho, sim, muitas dores, muita luta e muito orgulho..  “eduquem seus filhos pra não serem racistas, porque estamos educando os nossos pra resistir”

 

 

É que nós estamos segurando uma estrutura social tão pesada que pode acabar nos esmagando.

 

Camila Rodrigues.

16/10/2020.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

TE ESCREVO DESESPEROS


TE ESCREVO DESESPEROS

Durante a noite, sozinha, 
Ouço com clareza o lindo som do teu sorriso,
Sinto com alegria o teu cheiro passeando pelo ar,
Tudo isso é um misto de saudades,
Por todas as horas que estivemos longe,
A angustia de nunca recuperar aquele tempo,
O vazio em mim que precisa sentir
O peso do teu corpo em meus braços me trazendo alívio,
Não te escrevo poemas, te escrevo desesperos,
Te escrevo revoltas, ausências, todas tuas...
Te escrevo a necessidade de ser só tua,
Ser teu tudo, abres um mar em meu peito que transborda em lágrimas,
E quando chegas, é só felicidade...

Camila Rodrigues, para Oscar.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

RABISCO PEMAS...

rabisco poemas

rabisco poemas de amor nas paredes do meu coração
com os restos das cinzas que sobraram da nossa paixão
teu nome se repete como um mantra
transmutando as barreiras da própria ilusão
não me tragas nenhum segredo
já te guardo o bastante dentro de mim...


camila rodrigues.